16 julho, 2009

Inquietação e Desejo

_(...)
-Hum... Sim, são belas estas paisagens.
_Mas qual diferença. Tudo não vem da mesma coisa?
-Que chamas de mesma coisa?
_Este excremento... Do mais estaria falando?
-Odeio este tipo de diálogo, respostas com perguntas... Não vejo sentido.
_Ah, agora tu muda de assunto. Sabes que digo a verdade, não?
-Infernos, o que queres?
_Que continue o assunto, não vê?
-Hum... Não considero excremento. É paisagem, e ainda por cima natural. Tenho um ódio tão grande quando começas a diminuir verdades. Quer negar fatos não é? Isso é impossível.
_Por que tem esta opinião?
-Pare de só perguntar. Diga algo... Afirme algo!
_Por exemplo?
-Se é para afirmar tem de vir de você! É algo seu, o que tu acreditas!
_Hum... Por exemplo?
-Ah, esqueça.
_Como esquecer?
-Cala esta lixeira.
_Estamos pensando. Não estou usando minha “lixeira”. Vá, não vai dizer?
-Para que? Você irá perguntar mais. Até o assunto mudar.
_Você sempre afirma o que é seu?
-Claro.
_Sempre?
-Uhum...
_Hipocrisia para nós é crime.
-Como ousa?
_O que?
-Afirmar um crime meu...
_Você não disse que não posso questionar fatos?
-Mas...
_Suas opiniões verdadeiras vem somente quando é de análise própria?
-Sim...
_E tu só diz o que analisa?
-(...)
_Vi que você discretamente meneou a cabeça para os lados...
-Você não questionou?
_Claro, relatei tua dúvida.
-(...)
_Não se sente sozinho?
-Nunca.
_É bom?
-Nunca me sinto sozinho, não conheci o outro lado para saber diferenciar.
_Lógico... Como nunca percebi?
-Porque é um tolo.
_Viu quantas vezes já me ofendestes hoje?
-Pergunta retórica? Espere... Está me testando?
_E se estiver?
-Você não para de trabalhar?
_Nunca.
-Não se cansa? Não sente falta de um momento só seu?
_ Nunca parei de trabalhar, não conheci o outro lado para saber diferenciar. Isso não é seu?
-Tudo bem, eu disse isso. Mas sentimos sempre. Podemos sentir. Nunca pensou? Em querer descansar?
_ Se foi você quem afirmou... Como não é tua opinião, o que acreditas?
-Estás falando do que?
_Mais cedo, dissestes que afirmação é o que você realmente acredita já se esqueceu?
-Eu disse, mas...
_E disse que nunca dizia o que não pensavas, esquecestes também?
-Mas...
_Tudo o que você diz não é verdade?
-Como é? Vá para o inferno! És a pior das criações.
_Acreditas mesmo que isto é paisagem?
-Você conseguiu. Não, não acredito. Sei que tudo surgiu quando a força produziu mais vida do que devia. E tudo se proliferou por cima. Graças a um erro. Por displicentes como você. Que temos que prestar nossos preciosos serviços a estes ingratos. Não cumpro obrigações, me permito a seguir o que considero, a fé. Mas gostaria que não fosse para estes inferiores...
_Aliviado?
-Já conseguiu o que queria... Deixe-me...
_Sabes que nos alimentamos pelas tarefas cumpridas... Entende-me, não é?
-Sim. Mas não sou obrigado a gostar de ti.
_Correto. Mas pense comigo, se nos alimentamos do cumprimento, não é uma forma de nos forçar à fé?
-Cale-se. Não irei cair-me.
_É como o livre arbítrio deles? Será?
-Como podes ser tão baixo?
_Não sou assim, na verdade quem se mostra baixo é você para ti mesmo, não percebe?
-Isso nunca acaba?
_Depende do que quer... Ainda não ficou claro?
-(...)
_(...?)

Um comentário:

Luciana F. Righi disse...

...excelente. quanto à paisagem....do que se tratava? O que? Não posso perguntar? Quem disse que não? Eu vi. Viu o que? O gesto que fez com a sobrancelha. Voce sempre o faz quando esta incomodado. Heim? Não se faça de desentendido! Me ofendes de graça? Nada é à toa. Cale-se, estas inflamada. Se estou claro que a culpa é sua. Não te chamei aqui. Eu não preciso que me chame...vou quando quiser. Então vá. Já vim. Mas...o que quer? Querer? Não...você nao quer saber, só pensa em você mesmo. Perguntastes por falta de respostas. Odeio seu tom de voz ao pronunciar "perguntastes". Então não me faça falar isso. Ande. Como é? Adeus. Onde eu estava mesmo...? Me perdi na paisagem...