16 agosto, 2008

Reticente

Para aqueles pequenos peixes de aquário a memória é restrita a 30 segundos.
O que se pode fazer nesta fração de tempo?
Elogio, troca de olhares, violência, êxtase, orgasmos, uma casca de ovo se quebrando de dentro para fora, o aperto de botões ou apenas um, estas reticências...
Gozamos da lembrança, gozamos do poder de lembrar de horas por toda vida. Mesmo assim, nem dez segundos seguidos. Vida reticente, se não consegue lembrar, você não viveu?
Uma folha vai ao chão em uma bela dança, me lembro de um acidente de avião, manifestação caótica de apenas uma memória, sim, reticente.
Quando está feliz, o peixe – espero que ainda se lembre do peixe – sua vida sempre foi de alegria, em seu pequeno momento de tristeza a angústia foi contínua, fome, maldita fome, sempre esta fome, não há lembrança de satisfação, se não se lembra, você não viveu.
E no ápice, no maravilhoso fim, aquele que todos teremos, este escamoso (literal) e não reticente, sempre morte, sempre à espera. Admirável que aos reticentes, vez ou outra se faz o mesmo, não se percebe ou não se lembra que se não ao lado, ao fim irá encontrá-la.

Um comentário:

Procrastinador Geral da República disse...

Boooa! Muito bom o texto... parabéns!